segunda-feira, 20 de julho de 2009

Por que não caem os preços dos combustíveis

Por Sérgio Benatti, engenheiro

No final de 2008 causou surpresa o fato de a Petrobras recorrer à Caixa, para um empréstimo empresarial de quase R$ 3 bilhões, no mesmo momento em que corriam pelo mercado rumores de grandes saques feitos pela empresa em instituições privadas.

O tamanho da Petrobras e a sua inserção no mercado internacional apontavam para uma situação de liquidez que não condizia com a necessidade de captação junto a instituição de varejo popular, numa operação que representou mais de um terço de toda a carteira de Pessoa Jurídica da Caixa.

Surpresa também causou o fato de que, enquanto no mundo todo, a queda do preço do petróleo e o conseqüente barateamento da energia foi um fator bastante significativo na minoração dos efeitos da crise internacional, no Brasil os preços dos derivados do petróleo tiveram, em alguns casos, os preços majorados, mesmo num cenário de forte queda dos preços internacionais do produto.

Recentemente a Petrobras anunciou uma queda no preço dos combustíveis, mas que não chegou ao consumidor, uma vez que o governo, concomitantemente aumentou o percentual da CID sobre os combustíveis.

Essas questões nos levam a perguntar o que realmente está acontecendo com a Petrobras, que precisa apelar para banco de varejo para se equilibrar, drenando recursos notadamente de pequenos e médios empreendedores, ao mesmo tempo em que desatrela o preço dos combustíveis nacionais aos preços internacionais, prejudicando os nossos consumidores, diminuindo nossa competitividade como um todo, num momento de profunda crise econômica e quando finalmente resolve ajustar os preços dos combustíveis para baixo, o governo captura esse benefício ao consumidor via aumento de impostos?

Por que a nossa maior empresa pública ao invés de se comportar como instrumento de enfrentamento da crise se coloca como fator de seu agravamento? Por que se comporta muito mais como agente de governo do que como empresa que é?

As causas podem estar nas diferenças de diretrizes para as empresas estatais adotadas pela administração petista em confrontos com aquelas herdadas da era FHC. No âmbito do ajuste econômico, que resultou na estabilização da economia, a administração da Petrobras levou a empresa a parâmetros gerenciais internacionais, como a colocação de ações na Bolsa de Nova York e as conseqüentes ações de governança corporativa, bem como a prática de preços e custos internacionais para seus produtos e serviços contratados. A tese para a Petrobras e as demais estatais não privatizadas era de que quanto mais modernas e competitivas essas empresas fossem, melhor serviriam à economia nacional. As mudanças foram muitas, se comparadas com o histórico das empresas.

Na era petista, sem a explicitação de uma linha clara de ação, as diretrizes foram se alterando. Houve uma forte influência da corporação na administração da empresa, como resultado um aumento considerável do custo de pessoal, descasando sua política de remuneração daquelas praticadas no mercado. No mesmo período há um crescimento das ações econômicas em áreas não específicas do monopólio, tudo isso se dando num cenário de crescimento crescente da economia internacional e crescimento exponencial dos preços do petróleo. Neste cenário, as mudanças administrativas passaram despercebidas, mas elevaram os custos fixos a uma situação que dificulta o repasse da queda dos preços do produto ao consumidor.

Continua amanhã

sergio.benatti@isd.org.br